sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Jesualdo Cavalcanti lançará mais um livro: "SERTÕES DE BACHARÉIS"

Jesualdo Cavalcanti: escritor e membro da APL
"Eis o título do livro que devo lançar por todo o mês de outubro próximo. É inescapável a pergunta: por que Sertões de Bacharéis?", pondera o escritor Jesualdo Cavalcanti Barros, que já foi deputado estadual e federal, conselheiro do Tribunal de Constas do Piauí (TCE-PI), é um dos principais defensores da criação do Estado do Gurguéia e tem várias obras publicadas, por isso membro da APL (Academia Piauiense de Letras).

Para quem não sabe, “patrimônio de bacharéis” foi a expressão cunhada por Francisco Xavier de Mendonça Furtado, governador e capitão-general do Grão-Pará e Maranhão, em carta ao marquês de Pombal, seu irmão, para caracterizar os sertões do Piauí diante das costumeiras e intermináveis escaramuças judiciais geradas pela concessão indiscriminada de terras, sob a forma de sesmarias. Envolviam disputas entre sesmeiros, posseiros e jesuítas, sob a batuta de advogados e ouvidores". .

Para Xavier, como os bacharéis se julgavam donos do Piauí, haveria “de custar a Sua Majestade muito a desapossá-los.” Aliás, a miragem do bacharelismo sempre embalou os sonhos dos piauienses. Em 1822, enquanto o governo não se mostrava capaz de manter sequer uma sala de aulas de primeiras letras, cuidava de criar aulas de gramática latina, conforme carta estampada na capa da obra.

Nessa obra, fruto de cuidadosas e variadas pesquisas, tento resgatar a memória de 130 anos do exercício do poder no Piauí, período que compreende desde a instalação da capitania (1759) até a Proclamação da República (1889). Na garimpagem empreendida, foi possível saber, contrariando nossos principais historiadores, que João Pereira Caldas, nosso primeiro governador, instalara a capitania e assumira o poder aos 23 anos de idade, e não aos 35 ou 39 anos. O bacharel João José de Oliveira Junqueira Júnior, por sua vez, responsável maior pela implantação da navegação a vapor no rio Parnaíba, o faria aos 25 anos. Ambos mais novos que o conselheiro Saraiva, o fundador de Teresina, antes apontado, com seus 27 anos, como o mais jovem de nossos governantes ao tomar posse.

Sede da Academia Piauiense de Letras (APL), em Teresina
Há verdades tão surpreendentes quanto incômodas. Cessado o longo período governamental do visconde da Parnaíba, que duraria quase vinte anos, apenas dois piauienses seriam nomeados para presidir a província natal, no decurso de 46 anos. Por certo, era o antídoto aplicado por dom Pedro II para evitar o fortalecimento da oligarquia capitaneada por Manuel de Sousa Martins ou o surgimento de novas. Piauienses no Piauí, só vices. E para rápidas interinidades. Os presidentes, quase sempre, vinham de fora. Foram oito maranhenses, sete baianos, cinco pernambucanos, quatro mineiros, três cariocas, três cearenses e outros menos votados. Exceto dois – um militar e um engenheiro – esses executivos do imperador eram jovens, brilhantes e ousados bacharéis egressos das Academias de Direito de Olinda/Recife e São Paulo, muitos dos quais logo brilhariam no cenário nacional, a exemplo de Zacarias, Saraiva, Junqueira, Franklin Dória. Daí ter sido possível, arrostando dificuldades de toda ordem, inclusive ameaça de atentados, realizar nossa primeira grande revolução: retirar o Piauí do isolamento, via mudança da capital de Oeiras para a margem do Parnaíba, dando início à navegação a vapor e à interiorização do desenvolvimento. Resta fazer a segunda revolução, que será retirá-lo da pobreza, e para isto propomos a emancipação do Gurgueia.

Ao tempo em que aqui aportavam aqueles forâneos, muitos bacharéis piauienses eram mandados a emprestar o brilho de seu talento e competência noutras províncias. Citam-se, dentre eles: Francisco de Sousa Martins, que presidiu as da Bahia e Ceará; Francisco José Furtado, a do Amazonas; Polidoro César Burlamaqui, a do Paraná; João Lustosa da Cunha Paranaguá, o famoso marquês de Paranaguá, as do Maranhão, Pernambuco e Bahia; Eliseu de Sousa Martins, as do Rio Grande do Norte e Espírito Santo; José Basson de Miranda Osório, a da Paraíba; José Manuel de Freitas, as do Maranhão e Pernambuco. Furtado e Paranaguá foram além: ocuparam vários ministérios e presidiram o Conselho de Ministros.

A obra relaciona os piauienses formados, à época, em academias europeias e brasileiras, bem como aqueles que, exibindo esse galardão, exerceram cargos executivos, legislativos e judiciários. No fim, uma conclusão paradoxal: pena que a tentativa de barramento das oligarquias que o Império tentou fazer com a caneta, a República não tenha sido capaz de prosseguir com o voto popular, pois surtos oligárquicos logo começariam a vicejar no novo regime.

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