segunda-feira, 1 de julho de 2019

Fiéis católicos participam da centenária devoção às Santas Almas Benditas


Iniciada provavelmente do início do século passado, portanto há mais de 100 anos, toda primeira segunda-feira de julho acontece uma verdadeira romaria rumo à localidade Barreiras, distante 10 quilômetros da zona urbana de Santa Filomena (PI), para participar da Reza das Almas. Lá os devotos fazem suas orações, acendem velas e pagam seus juramentos religiosos nos cruzeiros, na frente e ao lado da Capela das Almas, erguida por volta de 2006. 

Na manhã de hoje, 1º de julho de 2019, centenas de pessoas compareceram ao lugar já consagrado pelos católicos, onde assistiram ao tradicional Terço das Almas e à missa, celebrada pelo pároco Isaias Pereira da Silva.

Prova inconteste da presença de grande número de devotos é a quantidade de veículos (carros e motos) estacionados perto da Capela das Almas. Além disso, muitos romeiros fazem a conhecida “caminhada das almas”, saindo por volta das 4 ou 5 horas da manhã e retornando após as orações, antes das celebrações, às vezes com os pés descalços, pagando promessas.

São peregrinos de Santa Filomena (PI) e de Alto Parnaíba (MA), principalmente, e até de Palmas (TO), como o aposentado João Nogueira Avelino (Bazim) e seu filho Muriel Rodrigues Avelino, que percorreram mais de 400 quilômetros de estradas ruins só para cumprirem a devoção.

Após a celebração da Missa das Almas, os romeiros são convidados para o almoço, servido por moradores e amigos da Comunidade Barreiras, graças às doações de devotos, de amigos e dos próprios moradores locais.

A reza das Almas nas Barreiras, antecedida pelo tríduo, que equivale a três dias (sexta, sábado e domingo, às 19h30) de orações e celebrações religiosas, em devoção às Santas Almas Benditas, é um costume deixado pelo casal Deocleciano José da Silva e Izidora Maria da Conceição.

Segundo nos contou certa vez dona Luciana Maria da Silva, atualmente com 86 anos de idade, a adoração foi recomendada por um senhor chamado Roberto e sua esposa Joana, que teria doado a imagem de uma santa à garota Ana Maria da Silva, ao que tudo indica, no início do século XX.

Após a morte de Deocleciano José e de Izidora Maria, a tradição vem sendo mantida graças aos filhos, netos e, enfim, toda a família, que admitem faltar uma infraestrutura adequada, capaz de acomodar melhor os romeiros. 

“Precisamos receber melhor os fiéis. Mas isso aqui não é nosso, é da comunidade católica, e vai durar para sempre. Mas aos poucos estamos melhorando, construímos banheiros com a arrecadação que vínhamos guardando e também já temos água encanada”, afirmou Antonio da Silva Lustosa (Tonheira), um dos principais organizadores da festividade.

Apesar de algo naturalmente associado ao catolicismo, a devoção às Santas Almas, como ocorre nas Barreiras, remonta a um costume religioso bem mais antigo e presente em todas as culturas: o culto à ancestralidade.

Existem várias novenas conhecidas, ligadas as almas: a das Treze Almas, a das Nove Almas, a das Almas Aflitas e a das Almas Abençoadas. Entretanto, em todas o fundamento é um só: a súplica por uma interferência delas junto a Deus por terem sido encarnadas e saberem o que é ser uma pessoa humana, com as dificuldades de sobrevivência.