quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Cemitério de escravos mostra a importância da cultura africana no Piauí

Imagem: José Bonifácio/GP11(Imagem:José Bonifácio/GP1)Cemitério de Escravos, a 25 km de Santa Filomena, mostra a importância da cultura e do povo africano no sul do Piauí

No dia 20 de novembro, nós brasileiros comemoramos ou deveríamos comemorar o Dia da Consciência Negra. Mas já lhe perguntaram por que foi escolhido esse dia? É porque foi nessa mesma data, no ano de 1695, que morreu Zumbi, líder do Quilombo dos Palmares.

Zumbi representa a luta do negro contra a escravidão, na época do Brasil Colonial. Morreu lutando bravamente em defesa do seu povo, em defesa da liberdade da comunidade negra.

Além de Zumbi dos Palmares, outros negros marcaram a história do nosso país, como o escultor Aleijadinho, o escritor Machado de Assis, o poeta Castro Alves, o inventor André Rebouças, a compositora Chiquinha Gonzaga, entre muitos outros brasileiros(as) ilustres.


Imagem: José Bonifácio/GP12(Imagem:José Bonifácio/GP1)
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5(Imagem:1)Do lado de dentro estão nada mais do que oito sepulturas, onde, supostamente, ali repousam esqueletos dos brancos

O Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, celebrado em 20 de novembro, foi instituído oficialmente pela lei nº 12.519, de 10 de novembro de 2011. A data faz referência à morte de Zumbi, o então líder do Quilombo dos Palmares – situado entre os estados de Alagoas e Pernambuco, na região Nordeste do Brasil. Zumbi foi morto em 1695, por bandeirantes, liderados por Domingos Jorge Velho, que comandou a destruição total do Quilombo.

Mas apesar de Zumbi dos Palmares ter morrido em 20 de novembro de 1695, a data somente foi descoberta por historiadores no início da década de 1970. O achado motivou membros do Movimento Negro Unificado contra a Discriminação Racial, em um congresso realizado em 1978, no contexto da Ditadura Militar Brasileira, elegerem a figura do palmarino Zumbi como um símbolo da luta e da resistência dos negros escravizados no Brasil.


Imagem: José Bonifácio/GP17(Imagem:José Bonifácio/GP1)
8(Imagem:1)O muro é de pedras toscas, paredes de até 2 m de altura por 50 cm de largura, e quase 100 metros quadrados de área

O nome de Zumbi, inclusive, é sugerido nas Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana como personalidade a ser abordada nas aulas de ensino básico como exemplo da luta dos negros no Brasil. Essa sugestão orienta-se por uma das determinações da lei Nº 10.639, que diz no Art. 26-A, parágrafo 1º: “O conteúdo programático a que se refere o caput deste artigo incluirá o estudo da História da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à História do Brasil.”

Imagem: José Bonifácio/GP1SEGREGAÇÃO!(Imagem:José Bonifácio/GP1)
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1(Imagem:1)SEGREGAÇÃO! Do lado de fora há cerca de vinte sepulturas, onde, provavelmente, estão sepultados alguns escravos

Devido à relevância da data, pois serve como um momento de conscientização e reflexão sobre o mérito da cultura e do povo africano no Brasil, todo o município de Santa Filomena, localizado no sudoeste piauiense, a 905 quilômetros de Teresina, adota o dia 20 de Novembro (Dia da Consciência Negra) como feriado municipal, com base na Lei Orgânica Municipal (artigo 13 dos Atos das Disposições Transitórias), revisada e aprovada em 30/06/2008.

Isso ocorre porque o município de Santa Filomena abriga um cemitério onde eram enterrados escravos, verdadeiro patrimônio de interesse histórico e ambiental, além de ser o retrato da aristocrática sociedade dos tempos idos, apesar de pouca gente dar atenção ao assunto.
 
Imagem: José Bonifácio/GP11(Imagem:José Bonifácio/GP1)
2(Imagem:1)Sede atual da Faz. Ponta da Serra, que pertencia ao branco proprietário e dono de escravos, Cícero Lustosa da Cunha

Localizado próximo à sede da Fazenda Ponta da Serra, a 25 quilômetros da cidade de Santa Filomena e na beira da BR-235/PI, o recinto é um local em separado, de segregação, já que brancos e negros não podiam dividir o mesmo ambiente, fosse em vida, fosse na morte.

Do lado de dentro estão nada mais do que oito sepulturas, onde supostamente estão sepultados os esqueletos dos brancos, enquanto que os negros escravizados eram enterrados do lado de fora do muro de pedras, pressupondo a segregação racial.

Murado de pedras toscas, com paredes de até 2 m de altura por quase 50 cm de largura, com mais ou menos 100 metros quadrados de área, o Cemitério dos Escravos é um lugar diferente, único, que abre uma enorme porta para a história da escravatura no sul do estado do Piauí.


Imagem: José Bonifácio/GP11(Imagem:José Bonifácio/GP1)
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1(Imagem:1)BR-235, KM 104: Após a Faz. Ponta da Serra, segue-se mais 0,6 km, sobe-se o penhasco e ruma-se à Ponta da Serra

O cemitério dos escravos de Santa Filomena se localiza no sopé da Ponta da Serra, donde se avista parte do Vale do Taquara. Para se chegar até ele é preciso transpor a vegetação nativa e subir uns 100 metros de degraus naturais, em meio a diversificados arbustos e pedra bruta.

O lugar, um espaço de memória, em processo de deterioração e que resiste ao mais completo estado de abandono, precisa ser recuperado urgentemente - continuamos cobrando isso, há muito tempo -, não só como resgate de uma cultura, mas preservando traços de uma época.

Conforme relatos, o trabalho escravo na Fazenda Ponta da Serra teria acontecido até fins do século XIX, por volta do ano 1880, na criação de gado e na exploração agrícola, sobretudo no cultivo de cana-de-açúcar. No imóvel ainda há alguns vestígios do trabalho escravo. Além do cemitério, lá existe uma muralha de pedras com mais de mil metros de extensão, construída pelos negros, mas que se encontra parcialmente destruída, face à construção da rodovia.


Imagem: José Bonifácio/GP1Da metade do trajeto, uma visão panorâmica da BR-235/PI e do vislumbrante Vale do Taquara(Imagem:José Bonifácio/GP1)Depois de 40 m de degraus naturais, a visão da BR-235/PI (Gilbués/Santa Filomena) e do fecundo Vale do Rio Taquara

Não se tem notícia da origem da população negra que trabalhou como escrava em território filomenense, possivelmente de Angola, no oeste da África. Do mesmo modo não se sabe o número exato de escravos que viveram na região; porém, pela quantidade de sepulturas existentes no cemitério, estima-se que deveriam ser mais de 50; talvez, 100 indivíduos.

A Fazenda Ponta da Serra pertencia ao branco proprietário e dono de escravos Cícero Lustosa da Cunha, filho do coronel José Lustosa da Cunha (Barão de Santa Filomena).


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