O escândalo denunciado por Antonio Nogueira ganhou projeção nacional e foi destaque no jornal O Globo |
O escândalo das Papeletas Amarelas ocorreu devido a um
conflito político interno no Clube de Regatas do Flamengo, que na época fez
ficar evidente que o clube destinava parte de suas receitas para a compra de árbitros
e adversários. As provas (notas fiscais de cor amarela) da picaretagem surgiram em 1986, mas o esquema em si ninguém sabe quando
começou.
O escândalo ocorreu durante a administração do
presidente George Helal, com valores que podem ter chegado a Cz$ 4.000.000,00 (Quatro Milhões
de Cruzados), quantia igual gasta na época pela equipe rubro-negra na negociação
atacante Kita. Após as denúncias, o Conselho Deliberativo do Flamengo queria saber
onde tinham sido gastos os 300 mil cruzados depositados na conta do vice
presidente de esportes amadores, Leo Rabelo.
Antonio Nogueira Neto, jornalista piauiense radicado no Rio há 40 anos, foi quem denunciou o Escândalo |
Duas versões surgiram na época: a do vice presidente Leo Rabelo, que garantiu que o dinheiro
fora usado para pagamentos a atletas amadores e profissionais, mas não
apresentou recibos provando o que dissera em sua defesa. Helal, que numa reunião com dirigentes do Flamengo, reafirmou que
o dinheiro fora entregue ao diretor de árbitros da Federação, Paulo
Antunes, resolveu dar um ponto final ao caso: "Os 300,00 mil
cruzados foram distribuídos como doping positivo para incentivar os clubes
pequenos contra nossos rivais", afirmou. Foi uma saída do esperto
dirigente flamenguista.
Como subornador de árbitros, Helal seria incurso no artigo 288 no Código Brasileiro Disciplinar de Futebol e seria eliminado do esporte. Como aplicador de "doping positivo", passaria para o 289, com pena de 90 a 360 dias.
A revista Placar de 13/10/1986 também repercutiu o tema, através do saudoso jornalista Marcelo Rezende |
À expressão "notas fiscais", utilizada em sentido figurado, cabe uma explicação: o conteúdo das papeletas
amarelas era mais semelhante ao dos famosos
"caderninhos", encontrados nas casas dos traficantes de drogas quando
são presos, visto que possibilitam um mínimo de controle contábil.
Sabe quem denunciou o Escândalo? - O que muita gente não sabe - eu também não sabia - é que quem primeiro denunciou foi Antonio
Nogueira Neto, natural de Santa Filomena (PI), residente na cidade do
Rio de Janeiro desde 1976, à época no Jornal
dos Sports, que deixou de circular em 2012.
O bom jornalista Antonio Nogueira Neto "rala" muito, mas tem tempo de se divertir na Cidade Maravilhosa |
“O caso mais emblemático de corrupção no futebol do
Flamengo, as ‘papeletas amarelas’, fui eu quem descobriu e denunciou. E deu no
que deu”, conta Nogueira, acrescentando que a diretoria do rubro-negro
carioca retirava dinheiro através das papeletas amarelas (Caixa 2) para
custear arbitragem.
“A denúncia veio a mim, através do presidente do
Conselho Deliberativo, senhor Orlando de Souza Barros, sobre a diferença no
caixa do Clube. O presidente do Flamengo era George Helal. Comecei a investigar
os responsáveis e a mecânica do caso, até chegar à completa apuração. Foi o
maior escândalo da história do Flamengo. O Jornal dos Sports deu muito destaque
ao caso ”, relembra o jornalista piauiense Antonio Nogueira Neto.
Jornalista Antonio Nogueira (Jornal dos Sports) com Washinton Rodrigues, o Apolinho (Super Rádio Tupi) |
Burrice dos Cartolas - De acordo com o
flamenguista Antonio Nogueira, foi uma tremenda burrice dos dirigentes da época, pois o dinheiro nunca chegou aos
destinatários que, segundo se comentava, seriam os árbitros (juízes).
“A coisa era mais ou menos assim: o dinheiro
saia do caixa do Flamengo destinado ao pagamento de despesas. Se o jogo
transcorresse normal, tudo bem! Porém, se o árbitro errasse e o Flamengo
perdesse, era uma enxurrada de críticas, mas o dinheiro não retornava para os
cofres do clube”, diz.
Ainda conforme Antonio Nogueira Neto, a contabilidade do Flamengo funcionava com dois tipos de papéis para as despesas: as ordinárias eram na cor azul; já nas despesas extraordinárias os recibos (Caixa 2) eram em papéis na cor amarela. Daí terem sido apelidadas de “papeletas amarelas”.
Ainda conforme Antonio Nogueira Neto, a contabilidade do Flamengo funcionava com dois tipos de papéis para as despesas: as ordinárias eram na cor azul; já nas despesas extraordinárias os recibos (Caixa 2) eram em papéis na cor amarela. Daí terem sido apelidadas de “papeletas amarelas”.
Francisco Horta, ex-presidente do Flu, entregando o troféu Bola de Ouro 87 ao jornalista Antonio Nogueira |
“Eu recebi a denúncia muito antes do julgamento do
Conselho Deliberativo; um mês antes do assunto ir a plenário, o presidente do
órgão me revelou em off. Fui
investigar e, após obter todos os detalhes, voltei a procurá-lo para dizer que iria
publicar a matéria no Jornal dos Sports.
E assim o fiz”, disse.
E conclui: “Um dos maiores embaraços da Justiça
está justamente na presença dos chamados ‘laranjas’. Muitas vezes o crime por
corrupção não é punido por essas e outras causas, pois a figura do laranja se
apresenta”.
Em síntese, o Escândalo das Papeletas Amarelas foi um episódio, nunca devidamente
esclarecido, de suposto suborno do Flamengo aos árbitros do Campeonato Carioca,
durante a década de 80. Os recibos do suborno, investigados por Antonio
Nogueira, eram de cor amarela, por
isso o nome.
Antonio Nogueira (centro) com Elso Venâncio, Carlos Eugênio Lopes, Francisco Horta e Pierry Carvalho |
BOLA DE OURO - O jornalista
filomenense Antonio Nogueira Neto, por essa e outras reportagens esportivas,
chegou a ganhar três vezes o prêmio Bola de Ouro, tradicional evento
criado nos anos 70, pelo falecido jornalista José Jorge, que homenageava os
destaques do ano em rádio, jornal e televisão.
Nas imagens acima, Antonio Nogueira aparece
recebendo o prêmio BOLA DE OURO 1987, ao lado dos jornalistas Elso Venâncio e
Pierry Carvalho, da Rádio Globo, e Washington Rodrigues, o Apolinho, da Super Rádio Tupi. Em 1987, Nogueira recebeu o troféu
de Francisco Horta, cartola do Fluminense.
O Bola de Ouro era considerado o “Oscar da Comunicação Esportiva”.