quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Seca histórica no Cerrado leva prefeito a decretar Situação de Emergência

Imagem: José Bonifácio/GP11(Imagem:José Bonifácio/GP1)
SITUAÇÃO DE EMERGÊNCIA! Quem plantou soja no final de novembro, amarga prejuízo de 100%, com 31 dias de estiagem

Setembro passou, com oitubro e novembro/Já tamo em dezembro. Meu Deus, que é de nós?”... “Rompeu-se o Natá, porém barra não veio/O só, bem vermeio, Nasceu munto além/Meu Deus, meu Deus”... Quem não conhece a Triste Partida, toada de Patativa do Assaré, gravada por Luiz Gonzaga em 1964, que mostra o retrato cruel do povo do sertão?

No ano 2015, o Cerrado Brasileiro, espaço territorial onde se encontram as nascentes das três maiores bacias hidrográficas da América do Sul (Amazônica/Tocantins, São Francisco e Prata), além da bacia do nosso Rio Parnaíba, o que, em tese, resulta num elevado potencial aquífero e favorece sua biodiversidade, está, assim como a Caatinga, enfrentando uma seca histórica.


Imagem: José Bonifácio/GP11(Imagem:José Bonifácio/GP1)
3(Imagem:José Bonifácio/GP1)ESTRESSE HÍDRICO: Já faz 31 dias que não chove na maioria das fazendas de soja situadas na Serra da Fortaleza

Pelas informações que se tem, o problema é igual em quase todo o Bioma Cerrado, desde o norte de Mato Grosso até o sul do Piauí, passando por Goiás, Bahia, Tocantins e Maranhão.

Em Santa Filomena, no sudoeste do Piauí, a situação não é diferente. Para que se tenha idéia do estresse hídrico, faz 31 dias que não chove na maioria das fazendas localizadas na Serra da Fortaleza. Noutras áreas agrícolas e no restante do território filomenense, ocorreram só chuvas esparsas, insuficientes para a germinação/emergência, já que a soja necessita de 6 mm/dia no início, atingindo o máximo durante a floração/enchimento de grãos (7 a 8 mm/dia).


“O plantio já era para estar todo finalizado. Essa soja aqui tá com 35 dias, já era para estar fechada, e com certeza já tem um comprometimento de no mínimo trinta por cento”, disse o agricultor Amarildo Martinho dos Santos, membro da Associação dos Produtores da Serra da Fortaleza (Aproforte), que junto com seu pai, o paranaense (brasilguaio) Salmi Martinho dos Santos, tenta plantar 1.100 hectares, sendo 800 de soja e 300 de arroz. Mas até o momento não conseguiram plantar mais que 500 hectares de soja, no final de novembro. De lá para cá, choveu apenas 24 mm, distribuídos em 4 dias. Estima-se que 40% da lavoura já está perdida.

Imagem: José Bonifácio/GP14(Imagem:José Bonifácio/GP1)
Pela imagem é possível perceber o ponto de murcha permanente das plantas de soja, ocorrido devido ao extresse hídrico

“Hoje já são 29 de dezembro e taí essa decepção pra gente. Não se sabe mais o que fazer, né?”, lamenta, desolado, seu Salmi. E pontifica: “Se Deus quiser, uma hora vai dar certo”.

Em outra Fazenda vizinha à Santo Expedito, verificou-se que dos 1.800 hectares que deveriam ser cultivados com soja, somente 600 foram plantados, no final de Novembro. Mas que, devido à falta de chuvas, não germinou a contento. Até mesmo o replantio foi totalmente perdido.

Condições idênticas passam os agricultores mais ao centro da Serra da Fortaleza. Segundo o paranaense Fábio Michelan, “a última chuva vista na Serra da Fortaleza ocorreu no dia 28 de Novembro”, acrescentando que dos cerca de 40 mil hectares previstos para serem plantados na área abrangida pela Aproforte, talvez uns 15 mil foram plantados, com perda total. “A janela da soja se encerrou dia 15. Se voltar a chover, a gente não sabe nem o que ainda vai plantar, se milho, se feijão ...”, diz Fábio, bastante preocupado com as dívidas que vencem em 2016.

E como fica o outro sulista Avelino Alves da Silva, que arrendou 600 hectares e agora não sabe nem como vai fazer para pagar o arrendamento? E o seu amigo e conterrâneo Nelson, que não resistiu à seca, depois de perder 1.100 hectares de soja, e viajou para o Paraná?


Imagem: José Bonifácio/GP1O caderno de anotações do Sr. Salmi dos Santos confirma(Imagem:José Bonifácio/GP1)
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Anotações do Sr. Salmi confirmam a seca severa; quem plantou perdeu;  e quem não plantou, será que ainda vai plantar?

SITUAÇÂO DE EMERGÊNCIA - O prefeito Esdras Avelino Filho deverá decretar no primeiro dia útil de janeiro de 2016, portanto, segunda-feira (04), “Situação de Emergência” em todo o Município de Santa Filomena, em função da anormalidade provocada pela falta de chuvas.

Para decretar a Situação de Emergência estão sendo considerados vários pontos, sobretudo o clamor dos agricultores e criadores, por causa da não ocorrência ou reduzida ocorrência de chuvas no Município durante os meses de Novembro e Dezembro de 2015 (época do plantio), ficando claramente cristalizado do ponto de vista climático um quadro de “Seca Severa”.

O gestor está considerando dados do EMATER, os quais apontam que choveu o equivalente a 127,0 mm em Novembro (68% da média histórica de 186,6 mm/1984 a 2014) e 56,5 mm até 28 de Dezembro (representam tão somente 22,7% da média histórica de 244,2 mm/1984 a 2014).


Imagem: José Bonifácio/GP1O que esperar desse plantio de soja, com 30 dias de plantado e com menos de 8 plantas (Imagem:José Bonifácio/GP1)
O que esperar desse plantio de soja, após 30 dias de semeada, com crescimento retardado e menos de 8 plantas/m linear?


O prefeito Esdras Avelino considera também que choveu menos de 30 mm na maior parte do Município de Santa Filomena e que faz 31 dias que não chove na Serra da Fortaleza nem no Vale do Riozinho, numa evidência de que o quadro caracteriza a Situação de Emergência.

O decreto levará ainda em consideração que tanto a Zona Urbana quanto a Zona Rural de Santa Filomena já se encontram seriamente afetadas com a escassez dos recursos hídricos utilizados na produção agrícola e pecuária, bem como, ainda, no consumo humano e animal.

A vigência da Situação de Emergência em Santa Filomena, conforme disse o prefeito ao GP1/Blog do José Bonifácio, valerá pelo prazo de 180 dias, contados da data de publicação do Decreto, podendo ser prorrogado por igual período, caso persistam as conseqüências.

Portanto, para o restabelecimento da situação de normalidade, haverá necessidade de reforço ou suplementação dos recursos do Município pelos Governos Estadual e Federal, evitando, dessa forma, o desastre sócio-econômico da população direta ou indiretamente atingida pela seca, haja vista as dificuldades encontradas pela Administração Pública Municipal quanto à adoção de medidas emergenciais que minimizem essa inusitada condição de anormalidade.


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