Enquanto o Piauí enfrenta a pior seca registrada nos últimos 50 anos, com 211 dos seus 224 municípios em situação de emergência, o Poço Violeta II, localizado a 600 mestros da BR-135, entre as cidades piauienses de Alvorada do Gurgueia e Cristino Castro, continua, apesar de exuberante, desperdiçando cerca de 24 milhões de litros de água todos os dias, desde 1973.
O pior de tudo é que há uma calamidade em andamento no Piauí, mas ninguém dá um pio, no sentido de que se evite tamanho desperdício e que as águas do Violeta sejam aproveitadas. Enquanto isso, falta água para fazer comida e tomar banho em 90% do território piauiense.
Imagem: José Bonifácio/GP1Já o Poço Violeta I, com 360 m de profundidade e vazão de 394 mil litros por hora, passou a ter o seu registro fechado
O Poço Violeta I, concluído em 24 de fevereiro de 1972, tem profundidade de 360,00 metros, nível estático de 31,07 metros e vazão de 294.840 litros por hora. No último domingo (14/09), estava com o registro fechado, tarefa que é executada pelos próprios donos do Restaurante situado ao lado. Embora o local seja uma atração turística à parte, recebe poucos visitantes.
VÍDEO: Poço Violeta II, com 1.000 m de profundidade, jorra 1.000.000 de litros por hora
Segundo se sabe, a água do Violeta sai a uma temperatura de aproximadamente 45º Celsius.
Desde a época em que foram perfurados, jorram essa água quase sem nenhuma utilidade. É muita água jogada fora, que escorre e se perde por entre um pequeno carnaubal. O que é desperdiçado seria suficiente para abastecer uma cidade de 130 mil habitantes.
Imagem: José Bonifácio/GP1
O Violeta II teria sido perfurado pela CPRM, em 1973, para avaliar os parâmetros dos aquíferos Serra Grande/Cabeças
De acordo com um especialista Wilton José Silva da Rocha, que é Doutor em Geologia, esses dois poços, denominados Violeta I e Violeta II, foram perfurados pela CPRM (Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais) para um projeto do DNOCS no vale do Gurguéia. No projeto, o poço I funcionou como piezômetro (furo de observação), enquanto o II sevia como poço de pesquisa, para avaliar os parâmetros dos aquíferos Serra Grande e Cabeças.
Outros dizem que o Poço Violeta surgiu por acaso; que a procura seria por petróleo, em 1975.
Entretanto, independentemente da finalidade, o que interessa mesmo é saber o que está sendo feito. Qual será a intenção dos nossos candidatos a Governador, em relação ao desperdício de água no Violeta? Existe alguma preocupação? Ou isso não interessa?
Imagem: José Bonifácio/GP1A água que jorra dos Poços Violeta é um recurso natural limitado, e o seu desperdício pode ter sérias consequências
Já diziam nossas avós que sabendo usar não vai faltar. O velho ditado é cada dia mais atual, assim como a necessidade de utilizar com sabedoria o que ainda temos. A água é um recurso natural limitado, e o seu desperdício pode ter sérias conseqüências. Cada setor da economia, cada fatia da sociedade, querendo ou não, tem a sua inevitável parcela de responsabilidade.
O Brasil é rico em disponibilidade de água, com 12% do total do mundo, mas a distribuição no território é muito desigual, especialmente no semi-árido do Piauí. O desperdício é intolerável.
Desperdício e Escassez - Os quase oito meses de ausência de chuvas que anualmente ocorrem, associados à insolação de mais de três mil horas no semi-árido, fazem com que os açudes piauienses estejam em situação alarmante, com menos de 30% da capacidade total.
Imagem: José Bonifácio/GP1Enquanto se desperdiça água no sul do Piauí, o açude Cajazeiras, em Pio IX, está com apenas 2,8% da sua capacidade
O açude Cajazeiras, por exemplo, localizado no município de Pio IX, tem capacidade para 25 milhões de metros cúbicos de água, mas se acha "seco", com apenas 700 mil metros cúbicos.
A crise da água será a marca do século XXI, conforme anunciam os formadores de opinião e interessados no negócio, tanto em nível mundial quanto nacional e regional. Efetivamente, a crise da água interessa a alguns, à medida que conseguem transformar a escassez em vantagens, aproveitando-se, sobretudo, da pobreza política da sociedade em geral.
Infelizmente, apesar de todos os avanços culturais, sociais e tecnológicos disponíveis, as mudanças e as inovações que conduzem ao desenvolvimento sustentável se tornam distantes no Nordeste do Brasil e, em particular, no estado do Piauí, onde falta água em 211 municípios.
Nenhum comentário:
Postar um comentário